sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Seu moço

Exato a tua Dor
Por quanto tempo mais
Medir o tempo
Metade um
Metade o outro
Dois seres na ausência
Lutando contra o tempo e sendo
Que no desencanto
Lugar humano
Se vive
E morre

Uma imensa batalha
Tuas tentativas, trincheiras e sonhos
Uma grande saia
Que te regula a vida.

(22/12/2014)

A solidão do Mar.

A solidão do Mar
Onda que bate na pedra
E volta para o mar dentro
O mar é solidão
Todo mundo tem um mar
Um mar de gente
Onda que bate na pedra
No fundo do mar
Tem toda a lágrima
Um grande olho

O mar é nosso
E é azul
Que bate no céu
Se o mar fosse rosa
Era beijo
Mas é azul
Onda que bate na pedra

O mar tem
Um lua
E um cavalo
O mar é de Jorge.
O mar é azul
Afunda em nós
Os nós de água
Água que não seca
São as nossas lágrimas
Azuis canções molhadas
Quando o teu mar se agita
Atira a pedra que te agride
Enches o mar de sonhos
Que a lua desce
E encobre o azul.
Água São Paulo que Jorge vai passar
Lança dragão poder!
O abraço é um mar de bençãos
O mar é sozinho
Sente tanto
Por toda a gente
Onda que bate na pedra
Rocha razão
Mar de lágrima
O mar é um menino
De Jorge.
É segredo!
É a hora do mar
Todo grande amor
É sonho não vivido
Água de mar
Sem destino
Toda cartomante
Morre afogada
E é segredo, Netuno!
A cartomante fabrica ondas
E nem todo mundo sabe nadar
Ela vive de todo sonho azul
Tem água no mar
Pintura de areia
A lua desce para a gente sonhar.
Já é meia-noite
Boa noite Mar!

(26/12/2014)

Filme


Antigo,
Posto o tempo do registro
Na praça
A alegria
De ver a gente a sonhar
Como é que se faz um filme?
Sendo a vida um esboço
O diretor enlouquece?
As salas estão cheias
Eles estão lá
Esperando algo para encher a mente
O filme
Nele você é o que poderia ser
Na vida o ingresso é caro
Os generais tomam leite azedo
E as crianças correm atrozmente
Estão todos a encenar
Encenam a felicidade
Que o publicitário fabricou
As mães choram seus mortos
Seus vivos-mortos
Comovidos de coca-cola
Vamos dançar
Serpentear
Viver sem eira nem beira
Que a morte um dia chega
Vamos fazer um filme?
Bastam os noticiários
Que nos roubam a alma
Vamos para a rua
Andar de bicicleta
Vem que o presidente teme a gente!
Vou guardar tuas mãos
Em toda a saia que usar
Num sonho de Almodovar
Filma essa tua cara passional
Um auto-retrato deformado
Filma a Grace Kelly, no banheiro.
Captura o nosso absurdo
Que a vida é um ensaio
Posto o tempo de registro
Me serve pão e vinho
Que coisa mais pura não há.

O filme tem um cheiro
Da nossa sujeira
Trajeto limpo é o da criança
Pois ainda não fede a adulto
Cheira feito o leite das cabras
Do pasto mais longínquo
Faremos então o filme
Que não queremos mais.
Olha aquela gente toda a sonhar
Compra todos com o cartão de crédito!
Nele você pode ser
Alguém num quintal além
Na vida o ingresso custa um vida
Não tem comercial
Esperando algo para encher-lhe
Já que és vazio
Encenem a felicidade
Ora, não é essa a busca!
Vem, que teus olhos brilham
Cade tuas memórias?
Vamos fazer um filme!
Convido a todos
Faremos então.
Conte dez mil mentiras
As salas estão cheias
Vem depressa ver o circo
O dono é um leão!
És rei em tua terra
Subalterno em meu quintal!
Filme,
Nele você é o que poderia ser
Esperando algo para encher-lhe
De tanta gente a sonhar
Desperta que é antigo
As vezes somos tudo
Comovidos de coca-cola.
Prova o gosto amargo teu
E senta na poltrona
Faz o teu filme
Sopra os quatro cantos do teu canto
E faz te esperança
E leva tuas mentiras ao céus do César
Teu tribunal
Aprende a amar
Que desce a terra e sofre com a tua coragem
Que lhe dou o troféu
De coadjuvante de tua vida errante
Filme.   
(27/12/2014)

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Feminina

Ah meu senhor!
Perdoa-me
Por não poder cobrir a minha vergonha
Das coxas
Que tanto tens por objeto
Que tanto se vangloria
Da propriedade.
Mas é na minha carne podre e subversiva
Que rompo a noite 
Discurso à dentro
Chicotando o padre e o juiz

Perdoa-me
Pela indigna condição
De mulher errante
Amante e depravação
Que da boca
Camisa revolta
Perdoa-me...
Grande senhor dos olhos de máquina
Por não ser puta tua

Te compraz
As manchas históricas
Do fogo mais tórrido
E tenta prender-me
Com tuas leis insanas.
Nas capas de revista
Pormenorizadamente
Carregada de símbolos
Do carimbo do diretor.

Perdoa-me
Por querer ser puta da minha própria sexualidade
Por dizer que gozo
Perdoa este demônio
Da vontade própria
De querer ser
Quantas eu quiser
Perdoa a sujeira do meu sangue!
Perdoa-me por não te servir 
Com açúcar e com afeto
Perdoa este meu crime de ser mulher
E com toda ironia mina
Te cuspo brasa
E rejeito teus valores doentes
Descarto o papel secundário que me destes
No teu livro de conduta
E nos teus comerciais
Da beleza
Da burrice
De mídia medíocre.
Perdoa-me!


segunda-feira, 21 de abril de 2014

Poema novo

Sensibilizada olhei para mim
Como quem olha a própria morte
Braços dados com a vida
Numa fúria de estrelas perplexas
Divagando o tempo
No dorso noturno do céu
Sensibilizada...

Vento e ladeira
Íngreme lembrança
Dum sonho visto pela metade
As paredes de geléia
E muito discurso
O ato mais humano
Letárgico
O cheiro da chuva chegando
Na impaciência
Noutra face a passionalidade das horas
A fumaça dos automóveis
Numa cidade onde a poeira
Encobre o chão raso
Disfarço a preguiça
Os corpos caindo longe do pensar
A tinta escorre larga e azul
Nos dedos
Sangue bom de alma pura
A imagem do poeta
Escrevendo à noite
Cercado de intensões

Queremos dormir
E divagar
Num repouso
Imerso em si
Quando fecha os olhos
Mil cacos de vidro
Dançam tontos

Sensibilizada
Descanso o braço
No braço do abraço
Do sofá
Que não cansa nunca
É escravo do senhor
E do escravo
É um corpo morto
Em madeira
Larga escala
Ouço dizer que a sombra
Perambula trêmula
Poema novo Cinema velho
E que as lembranças tem corpo
Que a memória é o que fica para a vida
E da estrada, é o prazer e a dor


Sensibilizada
Olhei para ti
De cara limpa
Na tal estrada
Sem automóvel controle
100 palavras
Sem discurso
Tinha a noite
Um par de sapatos
Um filme tosco
Auto-retrato, luz fosco
A estrada espelho
Quer te engolir
Que ser
O chão é de pedra mole
A maria-mole
Sensibilizei-me com a estrada
Ao saber viajante
No fim da estrada
E que sua roupa
Era Prada.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Ensaio

O perdão
Trata-se de um processo
Logo ninguém o faz de dia para o outro.
Há que se perder dentro de si
É preciso muita força
E compreender o tempo das coisas
Necessário é lançar-se sobre o orgulho
De modo que possas voltar
E olhar-se no espelho sem quebra-lo
Há que se ter um imenso grande coração
Para alguns é necessário toda um vida
Muitos arranhões e extrema unção.
Alguns(meu nome é perdão)usam as palavras mais bonitas
Mas perdem-se no caminho,certo é que  o perdão é para os fortes
Apensas para eles
E somos uma legião de fracos
Uma multidão de cansados
Milhas distantes
Há que se ter uma boa dose de esperança
Para se reconhecer no outro.
Perdão e vaidade nunca caminharão juntos.
Diante dos acontecimentos bruscos
Dos dissabores e dos desafetos vemos o quão difícil é.
Há os que tentam quando estão felizes,apaixonados
Mas quando o amado não corresponde ao seu mais alto grau de realeza
Quer mais que ele morra, da morte mais terrível, é claro, tão grande é sua nobreza de coração!
Perdão, palavra escassa na sua ação
Vulgar no cotidiano.
Quem perdoa,não faz contrato com o ego
Para perdoar é preciso coragem e despir-se das convenções
É desnudar-se do ato humano da soberba.
Há que se perder inúmeras vezes, tudo está tão escuro!
Necessário é, não!
É urgente!!!
Se um homem e seus espinhos nos perguntasse sobre o porque não o praticamos,
Quais desculpas  barganhariamos?
Dentro de um milésimo de segundos pediríamos perdão pela ausência de resposta?
Qual é nós daria aquele abraço  no primeiro desleal de nosso passado distorcido, aquele mais perverso?
Há que se fazer um ensaio
Um sobre o perdão!

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Ensaio sobre a parede(Bares)

Nos bares
A rua sambando
À frente
O abraço
Da paz ao riso

Nas ruas os bares
Vermelho carmesim
O doce amargo
Do copo vazio
Empalidecido

As  palavras
"Dentro da noite veloz"
É o sangue
É a rima, é a rima
É a tropa de choque
A nos arrebentar
O silêncio
Os papeis
Vozes
Do ontem
Do hoje.