segunda-feira, 15 de março de 2010

O real verde

Os edifícios desmoronam
Dos restos dos concreto
Dança a poeira de ilusão
De vida, que cimentada no sonho
De ser despencou na morte.
Novas vigas se recompõem
Para o eterno capital
O dinheiro voa
O verde absurdo
Permanece soberano do querer
E não ter sempre, a nota maior.
Cimentada, porém ,sem dona
Eternamente esvoaçante.

Cotidiano

Tragada pelos vícios
No desenrolar do descontrole
Indisposta.

A lava desce
É o molho que dá sabor à carne
Fatiada à moda da vida.
Sempre temos sonhos
Transbordam feito águas claras
Na realidade obscura.

Uma chuva de insetos
Dançam ferozmente ao redor da lâmpada
Festejam a grande luz que bronzeia e vigia ,o canto da sala.
Ouço o vento despenteado
Os cabelos de madeira.
O chiado da chaleira fantástica
Do cotidiano, traz a solidão ao seu devido lugar.
Vai amanhecendo
Como tem de ser
Logo o sol tomará a forma de um tirano
Que arrebenta a chibata no negrume da massa.

O pão está em cima da mesa
À espera da língua quente e voraz.
Do leite verte o sopro de ser saudável.
A amargarina endurecida
Rolo compressor do contínuo sentimento,
De que serão sempre assim os dias.
Saímos da mesa posta
Do que teríamos.
Passam as horas
Os automóveis brigam por um espaço
Nas fábricas, escolas, prisões, galpões.

Já são meio dia
O meio do nada
Dívidas se acumulam.
No rádio uma canção enfadonha.
Alface, bife, encontram os grãos de costume.
Faz muito sol
E indigestão
Escovamos os dentes
Cuspimos o que não serve ao bom hálito.

Trabalhamos
Preenche mo-nos de regras
Prioridades, padrões.
Os circos estão vazios!
Temos azia.
As horas não passam
A voz do chefe vai e vem
Os crachas se encontram
Reconhecem-se ao mesmo tempo que se ignoram.
As formigas são incansáveis
Suam e tem sobrancelhas.

Hora do café
Um convite à preguiça
Mãe de nós todos
Que Deus a tenha soberana.
Ah azia...

Amanhã um novo dia

Igualzinho aos outros.

Muitos figurantes
Insistem que não existe nenhuma relação
Bravas formigas com úlcera!

As sete horas
Hora rápida
De sopa e frango
Não temos para quem voltar
Nossos corpos apodrecem
Adormecem
Morrem.
Os computadores permanecem ligados
A madrugada é turva
O sono é interrompido
As crianças tem lâmpadas
Mamãe e papai não existem.
O rádio conversa em diversos idiomas
Os corações batem por bater
Torna mo-nos fumantes
Cardíacos, hipertensos.

Não, hora de acordar
A hora covarde
Também a hora do primeiro beijo.
A água descama a pele
Reveste-a, jura lealdade.
Empalidecemos num uniforme disforme.
Café, cabelos no ralo do banheiro
A amargarina está à espera do pão de hoje, da geleia.
Não existe ninguém
As lágrimas vertem do leite.
Logo sairá o sol
Muita poluição, propaganda
Malabares no farol
Assaltos
Não existimos.

Hora do mais forte fazer valer a sua voz.
Os elevadores amontoados
Cheios de etiquetas
De corpos
De que são?
Não existe ninguém.

As crianças irrompem o silêncio
Das madres manicures
Esta manhã uma formiga morreu
Não tinha para onde ir
O banheiro está ocupado
A área está isolada.
No noticiário a banalidade
Muitas folhas para carregar
O formigueiro está sobre carregado.
Não existia para ninguém
Um inseto
Mais um dentre a massa corrosiva.
Silênciou-se um coração
O da amargarina
Não existe ninguém para voltar.