sábado, 26 de julho de 2008

O crucifíxo e a Santa Caos

Quando era menina ouvia sua mãe dizer: - " Filha , clame a Deus todos os teu medos , antes de dormir".
Os pensamentos a torturavam , procurava logo uma igreja, vinha de família erguida nas bases do catolicismo.Rubia tinha dentro de si um vendaval, tinha uma fogueira celestial.Era uma tarde, Rubia se cobria com o desejo do vento, de ser musa dos altares.A chuva brincava com o seu corpo, embebia gozo em vinho.Quando ela passava, o vento, era todo arrepio , até mesmo nas tardes de um dia.
Precisava confessar toda a sua veia impudica.Era monumental, parecia que da Vinci, tinha parte naquilo. Ela entra, se ajoelha, com suas vestes negras dialoga com Deus.
Álvaro estava lavando as mãos, era jovem, mas, discutira com varias entidades tenebrosas. Era como se pudesse com essa lavagem, acabar com a ânsia que sentia por ter desejos impuros, na condição de sacerdote.

- O que te traz a casa de Deus?
- Padre, não posso mais me conter!

Quando olhou para Rubia, com um olhar incandescente, percebeu, que não há água, por mais benta que seja, que o fizesse esquecer que também era homem.
Rubia usava um vestido negro, com um decote do tamanho do pecado humano.Álvaro poderia se perder naquele submundo branco, feito duas dunas.Era toda brasa, não podia controlar seu corpo, sentia vontade de beijar aquele crucifixo, batiza-lo com sua saliva.
Rubia, nubígena, feita do pubis de um Deus sórdido, brinquedo de Buda.Fraquejava de joelhos diante de Álvaro, subia e descia as mãos pelo próprio corpo, estava molhada da chuva, ardente como o sol, cunilíngua de Lilith.
A pegou em seus braços, fazendo com que se levantasse, sentiu o calor de um corpo, mesmo com uma proposta de escudo chamada: BATINA.Foi então dominado por um forte impulso, aquela cintura de vênus!.Não tinha mais controle de que tanto se orgulhava.


- Quero manchar a sua batina!
- Quero promiscuir com meu desejo a tua fé!
- Quero na minha boca de fogo, a tua hóstia!

Dizia em seu ouvido, sussurrando, um apelo profano transformado em voz. O furor banhava o corpo de um sacertode, de repente, segurou-a pelos cabelos, impetuosamente, desenhava curvas no pescoço de uma Madona.Despia um corpo que jamais sonhara, aos rasgões deixou uma veste de encantos, e a Madona nua.
Num gesto obsceno, erguia a batina branca com detalhes em vermelho vivo, acariciava um instrumento de fé viril. Se entrelaçavam em beijos de morte, eram um Yin e Yang.

- Bendito seja Deus, que nos uniu no amor de Cristo!

Ía deslizando pelas coxas de Álvaro, alimentando-se de rezas felinas, sentindo o frio do crucifixo sobre seus seios de fogo, entregando-se inteira a cruz de redenção de seus pecados. A boca de Álvaro devorava uma flor com a paixão de uma Grécia antiga, à luz de velas, ao suave perfume de incenso. No altar Álvaro profanava, enquanto a penetrava, cobria-a com seu sêmem de luz.
- Et entroibo ad altare dei, que fecit coelum et terram...

Rubia sentia o crucifixo dentro dentro de si, inteiro, delirava numa poesia litúrgica. As estátuas, velas, testemunhavam uma carne podre de desejo incontido, uma Santa Caos que devorava pecados. Cansados de todos os contorcionismos possíveis, cheios da dança cósmica, se olhavam com espanto e ao mesmo tempo admiração.
Rubia deu um beijo na testa de Álvaro, levantou-se com a graça de uma garça, vestiu seu vestido rasgado pelo desejo febril, ajoelhou-se diante do altar, fez o sinal da cruz. Saiu da catedral com a leveza de uma pluma. Encontrara, finalmente, a absolvição eterna. AMÉM.

sábado, 19 de julho de 2008

Internado Morto

Que vontade de esfacelar um rosto
Deslocar um maxilar
Quebrar todas as costelas
Fraturar um braço
Arranhar toda a raiva
Cuspir numa bondade branda que vem supostamente de dentro
Castigar, punir todos os sentimentos
Oferecer toda a desgraça humana
Estrangular a tradição
Berrar!
Me enterrar nesta terra que tudo leva
Me alimentar deste chão de purgatorio
Queimar as cartas, os bilhetinhos de amor.
Rebobinar o filme de Deus
Violentar um mar de esperança , falsamente aflito.
Acoitar o tempo, o engano.
Fazer música da moléstia do homem
Espancar de intensidade esse egocentrismo
Ensanguentar a tristeza, fazer dela minha vitima, minha prisioneira, na carne , na cegueira , na vileza.
Esquartejar uma vida lúgubre
Um instante perverso
Tocar esse corpo de canção
Acalentar este filho tristonho
Esta virgem pálida
Este pastor de alma paralitica

Em pedaços a carne será cortada, temperada , cozida.
NAS TREVAS DE UM FOGÃO DE LENHA APOCALÍPTICA ,
matarei esta fome de de centelha.
Este circo de corações palhaços
Este vírus barulhento da mazela do João
Que vontade de esfacelar a vida

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Folha

O céu se expande neste corpo
Nas ladeiras da dor
Galopa tristeza
Percorre horizontes,
nadando numa correnteza de cacos de vidro,
amargurada.

Descobre mundos calados,
cegos, desbotando sangue.
Galopa tristeza de ondas radioativas.
Despe este corpo de nuvens macias
Dilacera os raios do entardecer.

Magoa este peito fraco
Devora os instintos de fera
Apaga a incandescência do desejo
A febre do amanhã.

Junte os pedaços da carne,
os pecados, todos, batidos com lágrimas e gelo.
Rasteja nesta terra de bárbaros
De decretos de morte.

Galopa tristeza
Mancha essas vidas que bebem suor do Deus derrotado
Perfure essas entranhas de carne, de canela viva.
Joga com estas almas obscuras
Geme neste corpo

Galopa tristeza