segunda-feira, 9 de junho de 2008

Arte Vadia

Sou toda prosa
Sou uma proposta de resposta, para todos que me vêem,
que me buscam com algum propósito
Sou uma feira barata,mas de encantos caros
Sou fina como uma flor
Mas ao mesmo tempo,
sou um mendiga,
e com todo direito a se-lo

Sou feroz com quem não me percebe
Grata com quem me absorve
E dizem as línguas afiadas: Isto de nada serve!
Sem nem ao menos conversar comigo,
mas também tenho muito amantes
Sei de cada um o nome
É Geraldo , José, Juventina, Adamastor.
Dou amor a todos eles
Não cobro nada por isso

Já conheci a guerra, a injúria, mas já despenquei nos braços de um olhar faceiro.
Minha voz é mordaz
Do meu corpo a aurora foi feita
Eu nada peço
O que é tudo pra uma moça de fino trato.
Sou desleal com a morte
Menina com as paredes
Estou exposta
Sempre aberta, com minhas devassas pernas.
Me manifesto em um instante provocante
Acalento desejos
Sou insaciável
Sou um verso profano
Um oceano
Pacote triste de aleluia
Vou entrando, me acomodando, desejando ser única

Sou uma lacuna
Uma vacina vencida
Uma freira ardente
FASCINAÇÃO, AMOR.

Eu estou nos olhos de quem quer ver
Não uso roupa
Sou descarada
Gosto que me afaguem
Sou narcisa
Viajo pra todo canto
Sou universal
Sou matinal
Meu manto é o Carnaval
Meu desejo vendaval

ESTOU AQUI PARA SER VISTA, APRECIADA, DILACERADA, COMIDA!

Sou tão vadia
Vou pedir perdão a Deus
Sou as torres de um castelo
Um deleite insano
Um onanismo incontrolável
Sou assim como uma febre
Que dá em todos , para todos.
Sou antiga na praça da cantiga
Sou um rastro de estrelas
Sou dama única e mãe do absurdo

Açougue

Por que seca o meu peito
Por motivo simples: fraqueza.
Aqui as loucuras já não mais habitam
Resta um coração negro.
Um pedaço de carne bem desenhada
Um brinquedo vermelho sem criança
Uma peste negra.

Poderia delirar com seus batimentos
Sonhar com seus formato e tamanho
Mas me distancio de mim.
Meu coração seria então uma caixa registradora de sentimentos,bons e ruins.
Um malabarista engênuo
Um pescador sem vara
Mas me distancio dos teus músculos

Coração, o que há nesta palavra,
Uma solidão feita em pedaços?
Vou vender um coração , a preço de banana,
pra feirante nenhum botar defeito.
Então restará uma cavidade triste, sem colesterol.

Serei um corpo incompleto
serei lua sem sol
logo venderei também os outros órgãos
Venderei cada pedaço meu
Seriei presente em banco de órgãos,
ou talvez comida de abutres.

Só restaram cabelos, restos de solidão,
que será suvenir pra careca,
ingrediente de alguma macumba,
junto a uma terra fétida.

Eu já vivi
já fui corpo, luz
hoje sou cinzas
amanhã, esquecimento.