quinta-feira, 16 de maio de 2013

Poema chamado Meu

Se sigo te amando
Sigo só
No desencontro
Tua saliva era o tempero
Da carne
O incêndio dos teus olhos
O meu silêncio
Hoje a percepção do dia
Era como antes de ti
Ainda que dissecada
E exausta
Tuas palavras são portas
Do mármore
Mais escuro
Te enforco nos fios telefônicos
Se não te beijo
No murmúrio empalideço
E sigo
Me vejo só
Num estar só
Quase sempre em mim
Dentro das lutas do pensar
As vezes  inconciso
Ora ácido
Ora sutil
O holocausto do teu corpo
Põe-me a pensar
Sobre as cinzas
Do ontem

A tua ideia ainda me permeia
Me encontra na calçada
Nos abraçamos  suburbanalmente
Do alívio
Da paz
Paira uma doce saudade
Sem conclusão
Ontem me abriu a porta
Afrouxei o fio do telefone
Sem fio
E a voz me punha a dormir
Com um cobertor de sorriso curioso
Cheiro de banho
De leite
Pele
Atravessava pelos minúsculos
Espaços telefônicos
Diagnósticos
Entorpecentes verdes
Pernas cruzadas e explicações
Não esperadas

No sonho dançávamos
Num tempo só meu
Dentro da menor partícula
Protegida por toda
A pela escondida
Debruçada na escada
De um prédio
Feito em livro
Vi teus olhos
Cheios d'água
Não quis dar-me a mão
Por que não quis dar-me a mão?
Queria espancar Você
No sentido mais íntimo
Te violentar
Ver-te novamente na cozinha
O barulho da TV
Junto à fumaça do cigarro
As paredes nuas
Frida Kalo e filme porno
Meus olhos de prata
Debruçados
Quase derretidos!
Viro-me para o lado
Onde não esta
É quase como
Que repousasse novamente
Feito avião
Que sempre retorna a base
Me aperta
E durmo o sonho
Com rosto de criança
Piloto automático
Função sempre
Para todas as viagens
Com paradas dentro e fora de nós.