sábado, 19 de dezembro de 2009

J-O-C-A-S-T-A

J-o-c-a-s-t-a
Castradora do amanhã
No sempre de nunca de todos do dias
Casta.

Jocasta já casta
Castrada
casto
A casta dos Jôs
Castanhas na catequese
Jocasta na catraca
Casta castradora.

Tema de Freud
Abismo do natural
Paraíso de Édipo
Saliva de serpente
Serpenteando no trono do Adeus.

A castidade
O chicote domina a palavra
Sem cerimonia
J-O-C-A-S-TA

Mulher castanha
Casta
No sempre de nunca de todos os dias casta.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Dezembro

Cortou-me com o silêncio
Fez festa com a novidade não contada
Cá estou a escrever na cama de todos os meus sonhos
Vestida de questões
Querendo a interrupção
O tilintar telefónico do olá
Tateando as incertezas
Caindo de madura
Ontem passado saboroso
Enclausurado no avesso de mim.
Estão fabricando gente
Estão pintando as calçadas de amanhã
Estamos a viver.

Cortou-me com o silêncio
Outra vez recusou-se
Empalideci
Ondas enormes de tristeza degustaram-se de mim.
O que penso eu do desdobrar dos acontecimentos
Quanto tempo se passou para que fosse preto o céu
Quanto tempo o tempo se deslocou de minhas mãos
Saberemos todos do fim do nós mesmos?.

Quantas voses
Relembrei de outros olhares direcionados a mim
Estou no encalço de um por-de-sol
Que não dá o ar da graça
Ele espera o fim do mundo
O dia em que todos os olhos se fecharem
E os lábios não mais murmurarem
A doçura da aurora
Feita em mulher.

Não cantaremos mais a união
Estamos vigilantes do vazio
Tudo está amargo
Insosso, pavorosamente pálido.

Cortou-me novamente
Com o despertar da ausência
A injúria da saudade
Lançou-me para o inferno da falta de ti
Tragou-me
Queimou-se com a brasa.
Hoje sou um grande campo verde-oliva
Sabe-se lá até quando
Quando...
Cortou-me com o silêncio
Cerrei os meus olhos.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Vestido Azul

Me visto da poesia
Dos corpos de outrora
De todas as lembranças
De esperança.


Esta roupa não me cabe
A vastidão do tecido
É incompátivel com a pele inserida
Pele precária que a dor derreteu.
Este vestido é azul
Um azul assim escandaloso
Encobre a alma, travestida
A alma pálida, sôfrega.
O azul do céu trás calma
Não a vejo em meu corpo
O corpo que o vestido engoliu
Mascarou , coagiu.


Me despi de mim
De minha alma
Transbordei-me em não querer
Na rejeição dos pelos dos braços quentes.
O vestido retorna ao guarda-roupa
Velho cumplíce de todas as horas loucas
De encontros marcados.
Ficou preso no abismo do esquecimento
De madeira preta.
Meu corpo o rejeitou
Descartou-o
Como ficará esta veste triste
Os tecidos são o fiar do comportamento
Escondem o que deve ficar escondido
É a ordem, o progresso , a ausência do beijo.
Os tecidos lutam para nos cobrir
As veses nos confortam
Também escondem o que queremos ter em mãos
Escondem os gestos do vai e do vem.
Queimarei-o
PANO DESGRAÇADO QUE ME VESTIRAM
Não me cabe
Que culpa tenho do desvio
Sou desvio de conduta.


Não faço biscoitos para o jantar
Não esquento a barriga no fogão matrimonial
Prefiro ser o que eu sentir vontade
Ser o desejo
O meu , o do outro.
Serei as pernas cansadas
Prefiro ser as estrelas
Prefiro até o surto
A ser simplesmente um número

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O que somos

Intenção
Pretensão
Tensão

Uma coleção de sãos
Bem organizados, disciplinados
A tristeza emerge quando piscamos todos, os olhos.
O objetivo do corpo é dançar
Se entrelaçar na vida, ser suspiros.
Afundamos na solidão
Na indiferença
No fracasso
Prendemo-nos na ilusão do perfeito dia,da hora perfeita.
Somos moribundos pedindo para sermos amados
Dilacerados, tragados pelos vícios
Amontoados feito roupa suja,o sujo de si.

Somos a roupa no varal
O varal é a vida
Que perdura enquanto brilham os olhos
Vejo a energia se dissipando
A velhice debochada tomando corpo.

Aniquilando, aniquilado...

Um esqueleto habitado pelos sentimentos
Músculos, uma carne conivente.
Combinações vasculares, projeções
Lábios,devaneios,seios
A fantasia,a ideia,a dor.
Perdemos muito, do amanhecer ao anoitecer.
Somos outros,labirintos psíquicos.

Saudamos as delícias
Todas elas passageiras
Dimensões alusivas ao corpo
E quando buscadas com mais furor
Transforma-nos em pervertidos sociais
Perigosos, inaptos ao convívio humano.
Somos defecados, somos o ato de defecar alheio.

Estamos presos no depois do prazer
Na aberração da imagem
Somos a sujeira do cano da cozinha
Somos o resultado da mente porca da alguém.

Somos A B G Y X
Códigos,DNA, bonecos feitos em carne
Números que se co-relacionam
Transformados no grito de gol.

Cada criança que nasce esta condenada!
A obedecer regras, a não ser.
Existimos para quem?
Nos transformamos em partidos políticos
Em nações,somos todos o ódio.
Matamos por papéis, cargos, por intolerância.

Somos bestiais
Somos algo...deixamos de ser.
Os pássaros são felizes.
Somos o império de nós contra nós
Nós somos destruição
Somos o fim da molécula
Estamos a baixo do resto do bico do abutre.
Nada.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Metade

Vou transpor as horas na evasão de mim
Me corrou na ânsia do amanhã
Borbulho minha inconstância de ser.
Se vive, se rasteja na história, no triste fim.
Me esgoto, me esgoto sempre
Numa folha de papel amassada, cheio de rasuras, verbos insustentáveis, alimento de vermes ensandecidos.

Me esgoto do resto do esgoto
E o desejo de morte toma conta da essência.
De bom grado , despenco , sem nenhum documento
Com todos os anseios do mundo,
todos os delírios contidos na pele.

Metade, metade sempre
Metade da madrugada do relógio exigente
Que trabalha, quase sempre na perda.
Maquina mortífera chicoteando na carne,
com a fúria da evasão, do homem displicente.

Perdemos algo , deliberadamente.
Gritamos fazendo ecoar as profundas dores
É incontrolável a perda
Latência da falta do ontem de todos os tempos.
Do sabor da felicidade!
Quase sempre fico por escovar os dentes incoerentes.
Por que poucas vezes sentimos!?
E logo vem o destempero.

Metade do tempo da vida escorreu, ladeira a baixo.
Não se pode fabricar a nova hora
Me esgoto , no milímetro.
O abismo esta inserido nas horas
Borbulho minha inconstância.
Vomito do caos
Tempo você tem pressa!

O tempo é um procissão de prostitutas
Uma dosagem de prazer.
É uma velha rendeira com a amargura nas mangas bufantes.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

A maratona

A felicidade corre tão rápido
Tanto que é preciso sr maratonista
Calçar todos os sonhos
E torcer que eles não fiquem gastos.
Os sonhos dos loucos são mais rápidos ainda
Tanto que é preciso uma força bruta para suar as palmilhas.
Nesta tentativa
Dias, anos se passam
Até acordar um dia e não mais sonhar.

Amago

Esta dor
Que muda a face
Dentro de uma caixa de alfinetes
Dilacera a carne esguia
Esta manhã o chão desapareceu
Desfragmentou-se
Levando tudo que se supunha ser concreto
Demos então um mergulho no inferno
E com queimaduras de primeiro e segundo graus
Tentaram nos resgatar
Infelizmente as bolhas são mais rápidas
Aí está, nosso corpo
Coberto de lava
Disforme, aterrorizante.
Com o jeans surrado de todos os dias,
levaram o corpo pequeno, derretido e contido na força do fogo.
De longe viam-se os alfinetes forjados
Feito espadas dos grandes guerreiros
Aí está
Fragmentos de possibilidades
Fracas tentativas do ser de SER
Algo que, si quer, o fogo
Pai de tudo que queima,
tenha sabido esclarecer

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Socorro ao tempo

As toalhas no vitrô
Amargam a tristeza dos corpos
Que já não se banhão em sensações
A vida passa diante dos olhos
Tudo são paisagens hostis
Reduzindo e traduzindo pingos de sentimentos não esclarecidos.
Somos todos objetos abjetos
Confusos tentando ser o que gostariam
Supondo muitas coisas
Sem resultado algum
Somos todos colecionadores de ilusões , de fracassos.
Nos lamentando da vida que não nos foi proporcionada.
São tantos desencontros
Tenebrosos encontros
Espero honestamente que caía a chuva
Para acalmar a minha úlcera
Angustia , minha insatisfação.
Como não fermentar tantos desejos
Como não sucumbir a eles
Como não insistir no arriscado
No errado?!
Somos versões melhoradas dos grandes carrascos de outrora
Que se manifestam inescrupulosamente em momentos inadequados.
Por que tudo não se acaba
Não se esfacela.
Vão passando os minutos
Não enxergo tudo o que deveria
Há tanto tempo que soube da felicidade
Que só se dá em poucos instantes , impulsos temerosos.
Já morreram bárbaros
Muita falácia
E o meu bloco já passou das dez
Aqui estou , entregue ao tempo
Espero que seja gentil comigo!
Quantas veses olhamos
Desejando ser a inspiração de alguém
Ser objeto de admiração
Ser silêncio também
Tantas verdades
Paredes obscuras que absorvem pezares.
O amanhecer é cinza
Como enfrentar coisas que não vejo , que não sinto?!
Somente o desassossego somado ao marasmo.
Tudo muito bem desorganizado
Esponja da dor
Males que vem de todos os lados
Por que todos não fazem o que querem?
O cansaço aparece inúmeras veses
Tudo termina num inferno
Um grande inferno.

O Sentido da palavra sentido

Este verão custa a passar
Massacra , empalidece os meus olhos.
Estes rostos custam a passar
Rastejam obstinados
Seguros de que seram eternos
Não , eu sei que um dia vão para o inferno dos tempos remotos.
Me disseram uma vez que a ordem dos fatores não alteram o produto.
Mas somos todos produtos
Que não se fatoram
Verbos que não se conjugam
Substantivos sem espaço.
Para um microscópico futuro suposto , poeira e ilusão personificada serão lançadas ,
onde não existem regras de etiqueta , nem ortografia.
Um dia há de chegar estes tempos
E se Deus tiver juízo , os poetas não morreram jamais.

Encontro

Mentiras bem escritas
Botões e flores
Mentiras bem contadas
Batom e chocolate
Olhos tendenciosos
Terminações nervosas
Cílios e pretensão
Porta aberta de canções
Corações fechados sem olho mágico
Desencontros
Lingerie e espuma
Presente dos tempos modernos
Muitos vícios
Cefaleia e palavras pela manhã
Café e perfume
Despedida sem telefone
silêncio e sol

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Insanidade

Acompanha todos um dia na vida
Mesmo que seja de um instante
Ela dança serena
Repousa absoluta nos olhos
Também presente nos puros de alma
Nos devotos , nos corruptos , distantes.

A insanidade tem corpo
Uma epidemia de valores abstratos
Torna claro aquele que não tem razão
Sempre tem lugar
Temos que vive-la também
Mesmo que a massa se recuse
E os pais se apavorem

Esta nos lábios dos marginalizados
Nas mãos da genética
É estrela insubordinada
Tem coro para a chegada
E também muito choro

Esta no discurso dos extremistas
No coração do artista
Nos ouvidos das autoridades
Nos sonhos dos jovens
Abaixo da divindade
Entre temor e euforia
Chegara para você , um dia.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Infinita Falta

Ela esta apática
Não consigo fazê-la voltar
Ao meu convívio
As duras penas

Os dias seguem
Todas as luzes estão apagadas
Não lançam mais seus raios tendenciosos
Ela se encontra em uma caixa
Sempre inserida nas torturas caseiras
Logo suas pupilas perdem o brilho
Até o triste endurecimento
Agora sei como se sentiu
Das dores, da agonia da indiferença
Do olhar pedinte
Da confusão e objetos, suas grandes atividades.
Como gostaria de resgata-la
Não há mais tempo , linda dama.
Teus braços são a extensão da minha tristeza
Reconcavo de saudade.
Resto da grandeza retirante
Quanta dor nesta noite
Depósito da carne que sobrou.
Se poderes eu tivesse
Sugaria-lhe toda esta dor
Para que pudesse assim sorrir
Mas a impotencia é incomensurável.
Se eu pudesse agarrar-lhe
E fazer pulsar o teu sangue triste
De modo que balançasse tuas artérias
Mas a tragédia é sempre a ultima dançarina
Mórbida, inefável e irremediável.
Sou pobre de alegria
Pátetica em realizações
indesculpavelmente calada.
Hoje o meu torpor é maior que o dia
Se qualquer dia o encontro for possível
Toda a minha vida terá valido um único sorriso teu.