segunda-feira, 30 de abril de 2012

O imperador da ampulheta

O tempo está medido
Imponente de seu valor
Aponta a unipresença
Substancial dos segundos

Bravos e pesados segundos
Que nos consomem as víceras
Ave de rapina
Trazes grandes dores
A marcar as ações
Corre velozmente
É ininterruptamente cruel
Tens medido tudo
Desde que temos consciência
De nossa finitude
Pueril
Esteve presente nas guerras
Mas o teu império não cai
É flamejante o pesar
Que nos dá
Quando  o minuto já se passou
Ponteiro carrasco
Por que medes?

O tempo não acaba
O que acaba é a ideia ser parte dele.
As horas transcorrem loucas
Como vespas no cio
Outrora eram os sinos
Hoje o horário comercial
A destroçar-nos
Como vigários
O tempo está medido.

Do deserto

Estou no meio do deserto
No silenciar
Onde não está
Matei todos os poetas
Estão no deserto
Acometidos
De cólera
Da intransigência
Estão onde estão os marginalizados
Estão todos em mim


Os fantasmas no deserto
Estão nus
No nada
Estamos imersos no nada
Das relações inconcretas
Somos todos o levante no deserto
Do desejo
Do imconpreender
Não somos a solução
Somos violencia
Corpo e medo
Sou você ontem
Somos todos um amanhã


A poeira encobre
Muitos sonhos
A poeira é multidão
É inconsequência
Jaz um chão de estrelas
No deserto
Cristalizou-se


O céu turvo
Resta-nos a passionalidade das horas
Uma nau negra
Um xavante
A curar-lhe as frustrações
Muitas crianças
Tentando convencer-nos da vida.

 

terça-feira, 10 de abril de 2012

O livro do amanhã

O ser acaba
A ideia do outro
se desmancha frente a análise dos acontecimentos.
O ser se desprende
O perfeito morre,
morre também o paradigma que aprisiona

Ficamos comas nossas visões , reações expressões
Com a falta da reciprocidade
Olhamos o outro a partir de nós mesmos
O sentir que vem do outro não é minha responsabilidade.
O respeito é pele
Roupa concreta
Sensatez
É o horizonte sensível

Tirem-me daqui a somatização
Palavras egolatras e indigestas!
Tire os teus olhos de mim
Afaste o corpo para longe do esquecer
Não terás o licor da manhã.

O ser se da como outro
Onde esta o outro
Esta nos recados
nas catracas
nos edifícios
O outro esta onde há a minha ausência
Na falta.

Esta manha o céu esta cinza
Não nos damos paz
Não conseguimos ficar a sós
Estamos em tempos de ruptura
De desencontros
furtivos

Eu sou
Tu és
Nos somos

Ai vem a santíssima trindade das relações
Vem entorpecida
Distorcida.

O ser acaba
Fico a imaginar
Tudo feito em ossos
Sem a carne
O que somos, ideias...
Somos efémeros
Menos que a terra
E podem dizer da minha frieza
Da visão amarga negativa
Pouco cristã talvez.

Perguntaria a Deus
Se eu o visse, quanto tempo mais iria me dar para que não fosse eu apenas ossos.
Deus silencia!
Mas aproximo-me
Meu grande travesseiro
São curtas as palavras e extensas as duvidas

Dar-me -ei o conforto!
Sou a construção
A mudança fatídica
Transformação honesta em espera de mim
Dantescos braços
Jaz o cansaço da palavra
Do seio
És o repelir
O não querer
Pois então que permito
Ser e ser e ser
E permito que sejam, sejam e sejam o quanto quiserem!

Esta escuro
No beco
Não tem rádio
Não tem mãos
Apenas o deserto de mim
Contínuas veses
Então vá ser o que queira
Abandona-me inquietude
Quero um verso
Um abraço de Drummond
E o cheiro de um menino
Generoso do quarteirão da felicidade
Que vive
Viveu no passado
E desencontro
Queiras!
Presenteio-me com canções femininas
E debruço-me na lembrança dum por-de-sol ténue
Agradeço pelo sorriso de outrora.