Ah meu senhor!
Perdoa-me
Por não poder cobrir a minha vergonha
Das coxas
Que tanto tens por objeto
Que tanto se vangloria
Da propriedade.
Mas é na minha carne podre e subversiva
Que rompo a noite
Discurso à dentro
Chicotando o padre e o juiz
Perdoa-me
Pela indigna condição
De mulher errante
Amante e depravação
Que da boca
Camisa revolta
Perdoa-me...
Grande senhor dos olhos de máquina
Por não ser puta tua
Te compraz
As manchas históricas
Do fogo mais tórrido
E tenta prender-me
Com tuas leis insanas.
Nas capas de revista
Pormenorizadamente
Carregada de símbolos
Do carimbo do diretor.
Perdoa-me
Por querer ser puta da minha própria sexualidade
Por dizer que gozo
Perdoa este demônio
Da vontade própria
De querer ser
Quantas eu quiser
Perdoa a sujeira do meu sangue!
Perdoa-me por não te servir
Com açúcar e com afeto
Perdoa este meu crime de ser mulher
E com toda ironia mina
Te cuspo brasa
E rejeito teus valores doentes
Descarto o papel secundário que me destes
No teu livro de conduta
E nos teus comerciais
Da beleza
Da burrice
De mídia medíocre.
Perdoa-me!
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
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